A história da civilização humana tem já pelo menos 50 000 anos, porém, as modificações mais significantes ocorreram no período entre 1200 e 1850. Se forem comparadas as pinturas da Europa em 1200 com as de 1850, além dos conhecimentos de química, física e biologia ninguém pode deixar de admitir que uma verdadeira revolução ocorreu nestes 650 anos.
Não são os cientistas que fazem diretamente seus instrumentos. Eles dependem de uma industria local, para a qual fazem suas encomendas. Mesmo que o pesquisador saiba do que precisa, ele só vai conseguir o instrumento se existirem artesãos capazes de fazê-los.
Macfarlane e Martin selecionaram 20 experimentos científicos famosos, ao acaso, que tiveram grande impacto na sociedade. E descobriram que 15 deles seriam impossíveis caso o vidro não existisse.
Vários povos na Antiguidade desenvolveram o vidro. Para muitos ele não passava de um substituto barato de pedras preciosas. Os romanos foram além, criando um bom número de aplicações para o vidro, no que foram seguidos pelos venezianos na Idade Média. Nenhuma das outras grandes civilizações desenvolveu o vidro como os europeus fizeram então. “Que a revolução do conhecimento dos últimos 500 anos tenha acontecido na Europa Ocidental e não em outro lugar pode ser atribuído em parte ao colapso na manufatura do vidro em civilizações islâmicas e sua importância diminuída na Índia, no Japão e na China”, dizem Macfarlane e Martin.
As conclusões da dupla, que editaram um livro, “The Glass Bathyscaphe”, em 2002 provando sua tese são ousadas: “O vidro transformou a relação total do homem com o mundo natural, e consigo próprio. Mudou o sentido da realidade, privilegiando a visão sobre a memória, sugeriu conceitos novos de prova e evidência, conceitos humanos alterados do ser e da identidade. O choque da visão nova desestabilizou a sabedoria convencional, e a visão mais precisa e mais exata forneceram as fundações para o domínio europeu sobre o mundo inteiro durante os séculos seguintes”.
Mauro Akerman
Setembro 2004
Fontes: Folha de São Paulo – Caderno Mais - 5/9/2004
Science Vol 305 - 3/9/2004 – www.sciencemag.org